Mudar as relações de género

09/02/2015 14:00

O lema briga de marido e mulher, metemos a colher sim foi a dos diálogos sociais Mulher e Gênero na manhã de hoje no Fórum Social Mundial da Biodiversidade 2015 (FSMBIO 2015), na sala 9, no Centro de Convenções Vasco Vazquez, em Manaus (AM). O público majoritariamente era feminino e vestido de camisetas rosa, cor da organização CRAMER- Centro de Referência de Amparo à Mulher "Mãe Célia Colares".

Os participantes dessa atividade foram: Silvana Colares, presidente de honra do CRAMER e presidente da setorial de mulheres da CMP-Amazonas; Luciana Viçosa Farias, da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, do Departamento de Direitos Humanos; e Socorro Prado, coordenadora de Articulação de Mulheres da Amazônia (AMA), membro do Fórum Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do Campo/Floresta. 

Houve uma encenação de uma situação de conflito entre homem e mulher. A história começou com uma senhora limpando a casa e lembrando de seus filhos. Foi surpreendida com a visita de sua filha, que chegava desesperada por ter sido vítima de violência de seu marido. E sua filha ficava com medo de denunciar para a Delegacia da Mulher. Após apanhar novamente, com marcas do corpo, decidiu denunciar seu companheiro. 

Silvana começou o diálogo compartilhando sua história de violência que convivia em sua casa com seus pais, quando era pequena. Essa história de luta incentivou sua mãe, Célia Colares, a criar o CRAMER. 

Deivid Santarém, coordenador geral do FSMBIO 2015, agradeceu a participação de todos e ressaltou a importância do CRAMER apresentar propostas alinhadas com sua agenda política e social para incluírem na proposta final na conclusão do evento para ser encaminhada ao Fórum Social Mundial 2015, que será realizado em março na Tunísia (África). 

Luciana explicou que o Departamento de Direitos Humanos possui quatro gerências e tem relação com Centro de Referência da Assistência Social. Um deles é destinado para questões da Mulher. Trata-se de um espaço destinado para a mulher compartilhar sua experiência de violência física, moral, psicológica, ou patrimonial. Essa gerência existe há seis anos. Atende mulher em uma situação de alta violência, com idosas, indígenas, com deficiência e afrodescendentes. 

Comentou ainda sobre o número do Disque Direitos Humanos, que poucas pessoas conhecem e atende em horário comercial população local de Manaus (AM). "Lá é um canal direto com o cidadão para denunciar uma situação de violação de direito. Precisa informar nome completo, telefone e endereço", informou.

"Ás vezes é a falta de perspectiva e autoestima da mulher enfrentar essa situação. É preciso quebrar o ciclo de violência. Nós não falamos o que tem que fazer, mas contribuímos no fortalecimento de vínculos familiares", esclareceu Luciana.  

A representante do Departamento de Direitos Humanos defendeu que é necessário capacitar essas mulheres para conseguirem uma boa colocação no mercado de trabalho. "Têm mulheres com medo de sair de programa de transferência de renda para investir no emprego", sinalizou. 

A vice-presidência Márcia comentou que para essa mulher sair da situação de violência precisa do apoio de ONGs, que podem contribuir nesse processo. "Se na cidade é difícil chegar esse atendimento, imagina na floresta". 

Socorro fez uma apresentação sobre o conceito e contextualizou a questão de gênero. Também identificou os tipos de violência: física, psicológica, patrimonial, sexual e social. "Hoje é o Estado responsável pela assistência social e de saúde. Temos que cobrar toda essa injustiça, fiscalizar e conhecer as políticas públicas, que trabalham pela autonomia das mulheres", disse.

A coordenadora de articulação da AMA comentou sobre a formação de organizações não governamentais feministas nos anos 1960 e 70, que foram formadas por feministas de classe média, militantes políticas contra a ditadura e intelectuais. Essas organizações se somaram depois com as sindicalistas e trabalhadoras de diferentes setores. 

Socorro ainda ilustrou o cenário mostrando alguns números, como: 5 mil mulheres morrem por ano, sendo 15 por dia. São seis estupros a cada hora. Dessa forma, os principais desafios são: ausência de informações sistematizados, dificuldade de comparar dados de delegacias, Poder Judiciário e Ministério Público, existência de uma rede especializada, mas que não se comunica. 

Os dados são alarmantes. Amazonas está no 23º lugar no ranking do Mapa da Violência, segundo dados do Cebela, de 2012. São 3,8 taxa de homicídios femininos por 100 mil mulheres. Já Manaus assume 20º no ranking entre as capitais mais violentas. "Um dos problemas também é a falta de delegacias especializadas em Manaus", esclareceu. 

Ela também explicou o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulheres (PAISM) e a Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. "Essa questão tem que ser transversal. Se não mudar as relações de gênero, a situação vai continuar a mesma".

No final da atividade, a mediadora leu a carta aberta que, resumidamente, diz: a favor de políticas públicas para as mulheres, uma posição de contribuir com os processos de discussão e construção de políticas públicas com foco na participação popular das mulheres, entre outros. Também ressaltou a quantidade de mulheres no Estado do Amazonas (cerca de 50%), para defender a não extinção das duas secretarias da mulher, do Estado e do município.

Fonte: https://port.pravda.ru/news/russa/08-02-2015/38081-mudar_relacoes_genero-0/